Recentemente resolvi assistir novamente o documentário "A Inventora - à procura de sangue no Vale do Silício", o qual já havia chamado minha atenção há alguns anos, mas com a prisão de Elisabeth Holmes no último dia 30, fui instigada a rever a obra da HBO. Para quem não está familiarizado com este caso, Elisabeth Holmes fundou a empresa Theranos em 2003 e prometia revolucionar a indústria de testes laboratoriais com uma tecnologia inovadora capaz de realizar uma ampla gama de exames utilizando apenas uma pequena quantidade de sangue. Com uma abordagem disruptiva, alegações ousadas e convincentes, Holmes foi vista como uma jovem visionária, se tornando uma verdadeira celebridade no meio tecnológico e atraiu investidores de renome, alcançando uma valorização de bilhões de dólares para a sua empresa. No entanto, em meio a denúncias de práticas enganosas e imprecisões nos resultados dos testes, a empresa foi investigada e, eventualmente, desvendada como um grande fracasso.
Antes da sua condenação, Holmes chegou a culpar a falta de compliance da sua empresa como motivadora das imprecisões nos testes laboratoriais e o caso da Theranos se tornou um marco na história empresarial, destacando a importância da transparência, ética e validação científica na inovação tecnológica.
Assistindo à entrevista de Holmes, ficou claro que ela tentou utilizar de forma ardilosa a suposta falta de compliance a fim de se eximir dos crimes que estava cometendo, mas me perguntei quantos empresários de boa-fé acabam seguindo pelo mesmo caminho simplesmente por não saberem gerir de forma preventiva os seus negócios e por desconhecerem totalmente a necessidade de implementação de processos internos e práticas de conformidade com as leis, regulamentos e padrões éticos, os quais devem ser aplicáveis à todos os segmentos.
Recentemente o compliance foi muito relacionado às aplicações da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) onde todos se preocuparam em rever as práticas de atuação no ambiente digital, mas o compliance é muito mais abrangente e deve estar presente em todos os setores de atuação, eis que as empresas devem voltar a atenção para políticas, procedimentos e práticas que garantam a conformidade com as leis, regulamentos e padrões éticos e sociais no ambiente físico e no virtual.
O compliance funciona como um leque de prevenção, evitando a aplicação de multas, processos judiciais e outras penalidades que possam decorrer de sanções legais por práticas inadequadas. Atuando diretamente na reputação da empresa, há a busca pela conformidade com a ética e a responsabilidade social, bem como um dos principais focos é a gestão de riscos, onde a identificação e mitigação de situações limiares ajuda a empresa a evitar problemas operacionais, legais e financeiros.
Todos estes elementos, quando alinhados e levados à sério pelos empresários, trazem resultados que justificam o investimento em prevenção e na solidificação da cultura organizacional baseada na ética, integridade e responsabilidade, pois criam uma maior confiança entre clientes, parceiros e investidores, fortalecendo o crescimento empresarial e influenciando positivamente o comportamento dos funcionários.
Portanto, empresários devem dar a devida importância ao compliance como um pilar fundamental para o bom funcionamento e sucesso sustentável de qualquer empresa, independentemente de seu tamanho ou setor de atuação.
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